segunda-feira, 28 de março de 2016

Seci - A filha esquecida no fundo do rio




Durante a minha apresentação na Feira da Torre de TV em Brasília, alguns moradores de rua pararam para ouvir a história e no meio da encantaria me apareceu a Seci, visivelmente doente, dessas doenças que só podem ser curadas pelo outro. Estava muito transtornada e ao me aproximar dela fui agredido, e ainda recebi alguns socos, me defendi com um abraço e nos meus braços ela se acalmou. Sentei a mulher no chão e falei a ela que ouvisse uma história de vó e ela parou para ouvir. 

Seci adormeceu ouvindo a história do Pretinho da beira do Rio Tartarugalzinho. Seci por alguns instantes foi Nazaré, a filha do seu Dionísio que trocou a realidade pelo sonho e fantasia do fundo do Rio. 


Determinada hora a mulher desperta e agora quer me ajudar a contar a história e ajuda mesmo.

Sesi é uma mulamba, drogada e suja; Seci é uma filha abandonada, uma mulher que tem apanhado muito da vida e dos homens que deveriam e nada fazem para ajudá-la. Seci é hostilizada por onde passa, porque Seci é "PE-RI-GO-SA" e sua loucura vai ficando cada dia mais insana, cada dia mais nociva, pois nunca ninguém lhe deu um abraço, um afeto, um carinho e todas as palavras que ela recebe diariamente estão carregados de ódio. 


Um vendedor ambulante que ouvia a história disse que quando viu a Seci se aproximando de mim, pensou que ali encerrava a apresentação, já que a mulher não respeita ninguém e é agressiva mesmo, na mesma hora ele se levantou pronto pra me ajudar mais se surpreendeu e ficou sem reação ao ver eu me defendendo com um abraço. <3 

Quando terminei a apresentação, Seci estava visivelmente tranquila, visivelmente em paz, visivelmente gente, pois o que há dentro de todos os molambos jogados, molhados, sujos e perdidos espalhados no chão, ainda é gente, é gente ainda; iguais a mim, iguais a todos. (aprendi isso no OcupaNise 2015)

Antes de partir foi a minha vez de ganhar seu abraço, abraço verdadeiro, desses que acalma a gente e nos impulsiona a seguir. Seci pegou o lenço que usei na apresentação e me ornou com todo carinho me chamando bem baixinho de meu rei, demonstrando toda sua gratidão, me devolvendo em dobro todo o amor que lhe entreguei naquele abraço e naquela história. 

Agora com o meu novo figurino, parei e posei para a foto e antes do clique, Seci pegou a peneira e me surpreendeu compondo a fotografia que ilustra essa história. Longe de mim querer ser santo, mas a peneira ficou parecendo uma aureola. :) Depois eu ri muito da fotografia.

Claro que aquela filha de Deus não poderia sair dali sem me deixar um recadinho pro meu caminhar. 

- Não tenha medo do verbo alheio! - Falou no meu ouvido, meu deu um beijo de alguns segundos e saiu rindo a toa.

    "As histórias propõe cuidado e cuidar do outro gera benefícios coletivos, faz bem pra quem é cuidado, faz bem pro cuidador, faz bem pra todos os que estão em seu entorno" 

   A Fotografia é Elisete Jardim.

     "Não terei medo do verbo alheio" - Joca

3 comentários:

  1. Égua, mano! estou aqui com o coração quase pra sair pela boca... Joca, tu és um abençoado eu amigo! Quanto mais vida tens, mais vida darás. Um abraço-mundo.

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  2. maravilhoso! sensibilidade e amor tão raros nos dias em que estamos vivendo..

    evoé!

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  3. Surpreendente! Parabéns pela atitude. Você grande Joca é uma pessoa que agente acaba de conhecer e parece que conheceu a vida inteira. Gosto da energia boa que transmites. N E Q A V ! Marinez

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