quinta-feira, 16 de março de 2017

Uma história pintada no Navio

Estava voltando de Belém em uma viajem de navio, eu vinha na rede e aproveitava para colocar em prática algumas técnicas de pintura que havia aprendido. Passei 8 horas pintando um auto retrato, eu deitado na rede. 

Enquanto eu pintava muitas crianças se aproximavam de mim dizendo que o pai ou mãe mandou perguntar quanto custava uma pintura. Eu ria e dizia que não era pintor, que demorava muito pra pintar. 

E toda hora vinha um moleque se pendurando a rede e ficava aquela rodinha em meu entorno, chegando a me atrapalhar, teve uma hora que eu me aborreci com tanto erê na minha rede e mandei todo mundo mundo capar o gato.

Eu sabia que se quisesse mesmo me tornar um pintor, eu teria que melhorar a técnica e ser mais rápido também, 8 horas pra pintar um rosto é muito tempo. 

Estava dando o último retoque no desenho da rede quando me apareceu a uma atentadinha.

- Moço, o papai mandou perguntar se você pode pintar o meu retrato, ele paga.

- Mas eu não sou pintor, já disse! E não da tempo daqui a pouco vamos atracar.

Respondi sem prestar muita atenção pra menina:

- Por favor moço! - Falou balançando a rede e me irritando. 

Quando olhei pra ver quem era aquela abusadinha, vi que se tratava de uma menina de 9 anos, que era linda e que o lado direito do seu rosto tinha uma enorme queimadura, parecia ser causada por óleo quente. Quando vi o rosto da menina fiquei muito comovido e estimulado a pintar. 

Coloquei a menina em uma contra luz para não realçar as marcas da queimadura e iniciei a pintura, nunca havia pintado tão rápido, em 45 minutos eu fiz o retrato da Laurinha que ficou o tempo todo ali no meu lado, junto com seu pai na maior torcida para eu terminar antes do navio atracar. E não é que eu terminei?! 

Pai e filha ficaram muito felizes, os olhos da menina brilhavam e ela saiu correndo abraçada com seu retrato, até hoje quando eu lembro da cena eu me emociono. Depois o pai veio perguntar quanto custava a pintura, e respondi que me contentava com o aprendizado e a beleza daquela experiência. 

Hoje, graças a Laurinha eu aprendi a pintar muito rápido e aprendi também a colocar sentimento na pintura. 
Sigo pintando e dia 24 de Março vou está no Bacabeiras, programação do Grito Rock, vou contar histórias e também fazer uma exposição com minhas pinturinhas. <3