Durante a minha apresentação na Feira da Torre de TV em Brasília, alguns moradores de rua pararam para ouvir a história e no meio da encantaria me apareceu a Seci, visivelmente doente, dessas doenças que só podem ser curadas pelo outro. Estava muito transtornada e ao me aproximar dela fui agredido, e ainda recebi alguns socos, me defendi com um abraço e nos meus braços ela se acalmou. Sentei a mulher no chão e falei a ela que ouvisse uma história de vó e ela parou para ouvir.
Seci adormeceu ouvindo a história do Pretinho da beira do Rio Tartarugalzinho. Seci por alguns instantes foi Nazaré, a filha do seu Dionísio que trocou a realidade pelo sonho e fantasia do fundo do Rio.
Determinada hora a mulher desperta e agora quer me ajudar a contar a história e ajuda mesmo.
Sesi é uma mulamba, drogada e suja; Seci é uma filha abandonada, uma mulher que tem apanhado muito da vida e dos homens que deveriam e nada fazem para ajudá-la. Seci é hostilizada por onde passa, porque Seci é "PE-RI-GO-SA" e sua loucura vai ficando cada dia mais insana, cada dia mais nociva, pois nunca ninguém lhe deu um abraço, um afeto, um carinho e todas as palavras que ela recebe diariamente estão carregados de ódio.
Um vendedor ambulante que ouvia a história disse que quando viu a Seci se aproximando de mim, pensou que ali encerrava a apresentação, já que a mulher não respeita ninguém e é agressiva mesmo, na mesma hora ele se levantou pronto pra me ajudar mais se surpreendeu e ficou sem reação ao ver eu me defendendo com um abraço. <3
Quando terminei a apresentação, Seci estava visivelmente tranquila, visivelmente em paz, visivelmente gente, pois o que há dentro de todos os molambos jogados, molhados, sujos e perdidos espalhados no chão, ainda é gente, é gente ainda; iguais a mim, iguais a todos. (aprendi isso no OcupaNise 2015)
Antes de partir foi a minha vez de ganhar seu abraço, abraço verdadeiro, desses que acalma a gente e nos impulsiona a seguir. Seci pegou o lenço que usei na apresentação e me ornou com todo carinho me chamando bem baixinho de meu rei, demonstrando toda sua gratidão, me devolvendo em dobro todo o amor que lhe entreguei naquele abraço e naquela história.
Agora com o meu novo figurino, parei e posei para a foto e antes do clique, Seci pegou a peneira e me surpreendeu compondo a fotografia que ilustra essa história. Longe de mim querer ser santo, mas a peneira ficou parecendo uma aureola. :) Depois eu ri muito da fotografia.
Claro que aquela filha de Deus não poderia sair dali sem me deixar um recadinho pro meu caminhar.
- Não tenha medo do verbo alheio! - Falou no meu ouvido, meu deu um beijo de alguns segundos e saiu rindo a toa.
"As histórias propõe cuidado e cuidar do outro gera benefícios coletivos, faz bem pra quem é cuidado, faz bem pro cuidador, faz bem pra todos os que estão em seu entorno"
A Fotografia é Elisete Jardim.
"Não terei medo do verbo alheio" - Joca
A Fotografia é Elisete Jardim.
"Não terei medo do verbo alheio" - Joca